O antissemitismo é fenômeno que perpassa os séculos, alimentando estereótipos e perseguições. Se, até o século I da Era Cristã, os conflitos envolvendo os judeus eram relacionados ao território e à hegemonia na região do que hoje conhecemos como Oriente Médio, depois disso houve o início de uma verdadeira guerra de narrativas, levadas a cabo pelos cristãos primitivos, de início, e pela Igreja Cristã institucionalizada, depois. As relações com o povo judeu passaram, então, pelo segregacionismo, pela tentativa de conversão forçada ou pela perseguição aberta.
Após uma crescente tensão no transcorrer do século XIX, o discurso e a prática antissemitas atingiram, durante o século XX, um ponto de paroxismo. Destaca-se o período do nazifascismo e do Holocausto, ligados à extrema direita. Também teve importância o chamado antissemitismo soviético, ligado à extrema esquerda e responsável pelas purgas do Comitê Anti-Fascista Judaico, por julgamentos de fachada seguidos de execuções, pela posterior perseguição dos “Refuseniks” e por campanhas de desinformação (LIPSTADT, 2019).
Apesar dessas estruturas extremistas disfuncionais terem virado objeto de estudo do passado, findaram consolidando uma retórica antissemita que reverbera até hoje (2019), mas devidamente adequada à conformação atual das interações humanas, bem diversa daquela do século XX.
Diante da revolução digital, a comunicação ganhou um poder e uma configuração jamais imaginadas pelos personagens históricos de outrora. O estudo antropológico é desafiado por essa nova estruturação da sociedade e tem que a ela se adequar, reinventando-se.
Há, felizmente, ferramentas para isso. O presente artigo pretende estudar as manifestações antissemitas diante desse novo paradigma social de comunicação. Para chegar a informações relevantes, recupera a ideia de observação flutuante (PÉTONNET, 2008) e, pensando em uma ressignificação da categoria de etnografia de rua (ECKERT, ROCHA, 2003), utiliza a etnografia digital (GOMES, LEITÃO, 2017) enquanto instrumento adequado a extrair análises coerentes da questão, em um ambiente aparentemente caótico.
Em um primeiro momento, tratar-se-á da metodologia antropológica utilizada. Logo após, será exposta brevemente a consolidação, notadamente no transcorrer do século XX, de uma retórica antissemita ligada a extremos ideológicos, à direita e à esquerda do espectro político. Serão elencadas, então, manifestações acerca do tema em um perfil específico da rede social Instagram, além de registros na rede social Twitter. Por fim, será traçado um paralelo entre a retórica atualmente encontrada no ambiente digital e aquela característica do antissemitismo dos extremos ideológicos do século passado.
Etnografia digital: adaptar-se ao novo
No início dos anos 1980, Colette Pétonnet revolucionou a antropologia tradicional ao mostrar as potencialidades do que chamou de observação flutuante, um exercício de observação de pesquisa no meio urbano, sem as amarras metodológicas usuais até então. Em suas palavras:
“A cidade, como lugar de todas as misturas, convém ser estudada em seus diversos meios. Entretanto, as variadas realidades urbanas, do mobiliário aos lugares públicos, resistem à investigação. O fenômeno urbano do encontro, em especial, não ofereceu os seus segredos. Caiba talvez ao etnólogo surpreendê-los. O método da ‘observação flutuante’ consiste em permanecer disponível […]” (PÉTONNET, 2008, p. 99).
Essa abordagem, diante de um centro urbano complexo e aparentemente caótico, pode representar uma inspiração para a observação de um ambiente digital que parece guardar características semelhantes. Supera-se, assim, a ideia de que “uma infinidade de desconhecidos não suscita tradicionalmente o interesse do etnólogo” (PÉTONNET, 2008, p. 101).
Dando um passo adiante a essa abordagem, Eckert e Rocha pensaram a categoria da antropóloga francesa enquanto elemento essencial de uma antropologia de rua para exploração dos espaços urbanos. No seu entender
“A intenção não se limita, portanto, apenas a retornar o olhar do pesquisador para a sua cidade por meios de processos de reinvenção/reencantamento de seus espaços cotidianos, mas capacitá-lo às exigências de rigor nas observações etnográficas ao longo de ações que envolvem deslocamentos constantes no cenário da vida urbana.” (ECKERT, ROCHA, 2003, p. 4).
Por fim, Gomes e Leitão mostram que esse ferramental de estudo etnográfico pode, de fato, ser levado para o ambiente digital e proporcionar uma rica análise. Justificam-se registrando:
“A inspiração nessa postura metodológica faz sentido também quando tratamos de alguns ambientes e plataformas das mídias digitais, na medida em que conseguimos identificar seus diferentes ritmos e topografias, e, assim como as cidades, as formas como são habitados, os trânsitos e deslocamentos percorridos por aqueles que neles (e deles) participam.” (GOMES, LEITÃO, 2017, p. 51).
Especificamente na rede social Twitter, a utilização das Hashtags, palavras-chave que funcionam como verdadeiras etiquetas, proporciona ao estudioso envolver-se, resguardando o anonimato, em uma conversa acerca de um tema específico. A utilização de tal ferramenta de coleta de dados e de análise é bem descrita (HINE, 2015) e tem enriquecido o estudo antropológico.
A intolerância religiosa, como o antissemitismo, e o extremismo político parecem ganhar força em momentos de ondas antiliberais e adquirem novos patamares com a difusão de informação potencializada pelas redes sociais. Estas não podem, assim, ficar ao largo das análises (BRUNS, BURGESS, 2016).
No presente trabalho, foram utilizadas duas redes sociais para análise anônima, Instagram e Twitter. Assim como Pétonnet (2008) não flutuou aleatoriamente no centro urbano, tendo escolhido o espaço de um cemitério parisiense, foi escolhido, na rede Instagram, o perfil @eva.stories[1] para a flutuação digital. Este mostra como seria o registro de uma adolescente judia da Hungria ocupada pelos nazistas em 1944, caso pudesse utilizar o mecanismo Stories do Instagram para gravar e postar seu dia a dia nessa plataforma digital. As postagens são baseadas nos relatos reais do diário de Eva Heyman, uma húngara que acabou sendo morta no campo de Auschwitz. O roteiro e a direção ficaram a cargo de Maya Kochavi e Mati Kochavi. O foco foi a apreciação dos inúmeros comentários presentes nas postagens do perfil, tendo sido analisados mais de 4.000 (quatro mil) comentários, a maioria na língua inglesa, mas, também, em francês, em espanhol, em português e em russo. Os relativamente poucos comentários em hebraico não puderam ser apreciados, em razão do não domínio do idioma pelo autor.
Na rede social Twitter, optou-se pela utilização da ferramenta de busca por Hashtag para se adentrar, também de forma anônima, em uma verdadeira conversa plural acerca de um tema específico. No caso, a expressão escolhida foi #sionismo, visto que a palavra “sionismo” fazia parte, com conotação negativa, do repertório retórico tanto da extrema direita quanto da extrema esquerda do século XX. Diante dos resultados, foi possível analisar o conteúdo de postagens diversas sobre o assunto.
Em relação às duas redes sociais utilizadas, buscou-se pela presença de termos retóricos característicos do discurso antissemita do século XX. Salvo casos em que havia identificação explícita, não foi possível definir, de maneira individual, se as postagens eram realizadas por usuários que se definiam como pertencentes à direita ou à esquerda do espectro político. O objetivo era o de flutuar no meio desse amálgama digital e tentar verificar o quão presente estavam algumas chaves retóricas definidas como antissemitas no século passado.
Retórica antissemita do século XX
A retórica antissemita do século passado se pautou pela reverberação de estereótipos e de qualificações específicas ligados ao povo judeu. Optou-se pela utilização de um repertório e de narrativas ligadas aos dois maiores movimentos antiliberais (no sentido clássico) do século XX, a saber a ditadura nazista na Alemanha e a ditadura comunista na União Soviética (URSS). A escolha se justifica pelo fato de o governo de ambos os países (sobretudo o da Alemanha) terem admitido explicitamente as posturas antissemitas de ambas as ditaduras, após o fim de seus respectivos regimes de exceção, em 1945 e em 1991. Registre-se que o antissemitismo stalinista foi admitido pela URSS já na época da desestalinização, a partir de 1956.
Como nota importante, registre-se que muito da retórica antissemita utilizada no século XX foi elencada em uma peça de desinformação forjada pela polícia secreta do Czar da Rússia, possivelmente como reação ao Primeiro Congresso Sionista, em 1897. Trata-se da famosa obra Protocolos dos Sábios de Sião. Nela, é descrita uma conspiração judaica com o objetivo de conquista e de desmantelamento do mundo ocidental. Os judeus eram retratados como sendo obcecados por dinheiro e como conspiracionistas perigosos. Insidiosos controladores das finanças e da política mundiais, em detrimento das nacionalidades alheias. Verdadeiros cosmopolitas e internacionalistas mal-intencionados, exploradores e dominadores (POLIAKOV, 2007). A peça é reproduzida até hoje (2019) por grupos antissemitas, como se verdadeira fosse.
O movimento sionista foi criado em 1896 por Theodor Herzl, após o ruminoso caso do capitão Dreyfus na França, ocorrido em 1894. Herzl considerava que a Europa havia se tornado um terreno por demais inóspito e perigoso para os judeus e defendeu o direito à autodeterminação do povo judeu e à busca por um Estado nacional (POLIAKOV, 2007). Entende-se que o Estado de Israel é, de certo modo, consectário desse movimento.
No âmbito da extrema direita, a escalada retórica se deu em paralelo à escalada de repressão, a partir da fundação do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, conhecido como Partido Nazista, em 1920. Sua chegada ao poder na Alemanha se deu em 1933.
A par da mais ampla narrativa contida nos Protocolos dos Sábios de Sião, os nazistas assimilaram em seu discurso algumas expressões específicas, como “sionismo” e “sionista”, com viés bastante negativo. Utilizavam, sem pudor, a palavra “judeu” como significando verdadeira mácula.
O antissemitismo era explícito e admitido enquanto tal. No caso que deu ensejo à promulgação das famigeradas Leis de Nuremberg, o dos manifestantes que arrancaram a bandeira nazista do navio SS Bremen em Nova Iorque, Göring, comandante da Força Aérea alemã, declarou que o juiz americano que julgou o caso era um “judeu descarado” (REES, 2018, p. 114).
O próprio Hitler, em sua obra “Minha Luta”, referiu-se especificamente aos sionistas, defendendo que estes tentavam enganar o mundo ao insinuar que a criação de um Estado na região palestina iria ser suficiente. O austríaco considerava que o sionismo era uma mera desculpa que garantiria uma organização central para os planos de conquista internacional dos sionistas, que seriam essencialmente cosmopolitas (HITLER, 2016)[2].
Um elemento chave da retórica nazista era o da “motivação alemã” para justificar a perseguição aos judeus. Afinal, para os nazistas, os judeus teriam humilhado o povo germânico e provocado a derrota alemã na Primeira Grande Guerra.
O governo alemão admitiu abertamente, de modo especial após a reunificação do país, os erros cometidos durante o período nazista e renegou toda a retórica conspiracionista ligada aos judeus à época.
No âmbito da extrema esquerda, as configurações do antissemitismo durante a existência da ditadura soviética foram menos homogêneas do que no caso nazista. Parte disso se explica pela duração mais longa daquilo que os russos chamam de período soviético e, também, pelo fato de vários líderes diferentes terem assumido, em sequência, o poder de mando na URSS. Cada um deles manejou a questão à sua maneira, apesar de ser possível notar um certo padrão.
Logo após a Revolução Russa de 1917, Lênin manteve uma tendência contrária ao antissemitismo vigente durante o czarismo. Apesar de algumas menções negativas esparsas em relação ao movimento sionista, no geral, ele defendia o respeito ao povo judeu (SEBESTYEN, 2017).
A situação mudou drasticamente com a ascensão de Stálin ao poder. Até 1948, o governo stalinista apoiou abertamente o movimento sionista e a criação do Estado de Israel, notadamente como estratégia de enfraquecimento dos interesses das nações ocidentais no Oriente Médio, em particular a Grã-Bretanha. Durante a Guerra Árabe-Israelense de 1948, o ditador georgiano garantiu que armas da então Tchecoslováquia fossem fornecidas ao exército israelense e permitiu que judeus poloneses dele fizessem parte (POLIAKOV, 2000).
As perseguições antissemitas na União Soviética stalinista começaram, no entanto, em novembro de 1948 e se estenderam até a morte do ditador. A hipótese mais aceita é a de que, a partir do momento em que ficou evidente que o Estado de Israel não seria um enclave socialista no Oriente Médio, Stálin resolveu se voltar contra os judeus da URSS e, quando possível, do mundo (KOTKIN, 2017).
Após a Grande Guerra Patriótica (como os russos se referem à Segunda Guerra Mundial), as expressões “judeu” e “antissemita” restaram excessivamente carregadas e ainda ligadas ao inimigo nazista. Ficaram, assim, proscritas das publicações e dos discursos oficiais. O termo pejorativo жид (“jid”) era amplamente utilizado pela população, à época, para se referir aos judeus, mas evitado pelo governo (NAUMOV, RUBENSTEIN, 2005).
A chave retórica antissemita stalinista, porém, não foi muito diferente daquela que já existia desde os primeiros anos do século XX. Judeus eram agora chamados indiscriminadamente de sionistas e o sionismo passou a ser visto como algo ruim, uma degeneração imperialista. Estereótipos presentes no já citado Protocolos dos Sábios de Sião foram utilizados à exaustão. Judeus tornaram-se “cosmopolitas sem pátria” (AZADOVSKII, EGOROV, 2002).
A partir de 1948, deu-se uma ampla perseguição a intelectuais e a figuras proeminentes de origem judaica. O caso do Comitê Judeu Anti-fascista foi bem representativo. Vários foram detidos e os sobreviventes julgados em típicos julgamentos forjados da era stalinista. Findaram executados até 1952 (NAUMOV, RUBENSTEIN, 2005).
Também emblemático foi o Processo Slansky, ligado ao então denominado “Complô Sionista” de Praga, em 1952. Vários judeus foram considerados agentes sionistas do Estado imperialista de Israel. Todos foram executados (AZADOVSKII, EGOROV, 2002). Importa enfatizar que o termo judeu fora substituído por “sionista” no período.
Curiosamente, até o Marechal Tito, líder da então Iugoslávia, após romper com Stálin, foi considerado por este um sionista, a serviço do sionismo internacional (POLIAKOV, 2000). Como se sabe, contudo, Tito era etnicamente um croata cristão ortodoxo.
O Estado de Israel se transformou de um aliado para uma nação sionista e imperialista, usurpadora do espaço dos árabes no Oriente Médio (HIRSH, 2018). Nascia mais uma chave retórica da época. O antissemitismo stalinista adquiriu características tão marcantes que começou a chamar a atenção até mesmo da esquerda ocidental mais simpática à ditadura soviética. O registro de Jean-Paul Sartre, ele mesmo nunca tendo se furtado de apoiar ditaduras de extrema esquerda, feito em 1952 para a revista Evidence é emblemático:
O antissemitismo hoje não é mais uma doutrina. […] Os partidos de direita que outrora professavam um antissemitismo sistemático foram substituídos por grupos que não se ligam mais à direita, que nem ousam mesmo dizer seu nome. Por outro lado, é evidente que hoje assistimos a um antissemitismo “de esquerda” Jean-Paul Sartre (POLIAKOV, 2000).
No entender do governo soviético, episódios como esse deveriam ser evitados. A necessidade de modular o discurso para não ferir suscetibilidades e, ao mesmo tempo, conseguir penetração na imprensa ocidental, para além dos veículos oficiais de comunicação da ditadura, fez com que fossem criadas e amplamente difundidas algumas das principais chaves retóricas do antissemitismo do período soviético.
Em fevereiro de 1953, semanas antes da inesperada morte de Stálin, o jornal Крáсная звездá (Krasnaya Zvezda), ligado às forças armadas, registrou que o antissionismo defendido pelo governo soviético não deveria ser confundido com antissemitismo, pois as críticas não eram ao povo judeu, mas aos sionistas, cosmopolitas ávidos por dinheiro e prontos a tentar controlar o mundo. Além disso, os verdadeiros racistas seriam justamente os sionistas, que se considerariam um grupo diferenciado (LIPSTADT, 2019; POLIAKOV, 2000). Essas chaves retóricas, fortemente embasadas em estereótipos depreciativos, que remontam à virada do século XIX para o século XX, ainda são utilizadas, até hoje, por parte da esquerda (LIPSTADT, 2019).
Nos estertores do stalinismo, o caso dos médicos envenenadores, ou o Complô dos Médicos, tornou-se símbolo do franco antissemitismo vigente sob Stálin. Um grupo de profissionais da saúde foi preso sob a acusação de por em prática um plano de eliminação de figuras ilustres para posterior tomada do poder. O Правда (Pravda), principal jornal de desinformação da ditadura, publicou, em janeiro de 1953, que “a captura do bando dos médicos envenenadores é um golpe dado à organização judaico-internacional-sionista” (POLIAKOV, 2000, p. 55). A tensão era tão grande que os termos “judaico” e “sionista” se entrelaçaram.
Nas semanas anteriores à morte de Stálin e diante dessa propaganda antissemita maciça, o nível de indisposição da população russa para com os judeus tornou-se bastante elevado e incidentes antissemitas se multiplicaram (AZADOVSKII, EGOROV, 2002).
Em março de 1953, porém, morria o “georgiano milagroso”, como Lênin se referia ironicamente às limitações intelectuais de Stálin (SEBESTYEN, 2017).
Os mesmos jornais oficiais que divulgaram os complôs dos sionistas cosmopolitas informaram que as várias acusações e os vários julgamentos ligados a eles não passaram de encenações e de calúnias contra as vítimas. Essa passou a ser a posição oficial do governo soviético até seu colapso, em 1991. Isso não impediu, contudo, que a retórica antissemita característica do período stalinista perdurasse, após já ter sido criado um amálgama na sociedade russa e em grupos ligados à esquerda radical do ocidente.
Vale o registro de que expressões como antissionismo e sionistas e, também, narrativas como a de uma conspiração sionista internacional ligada a banqueiros e a financistas inescrupulosos acompanharam o discurso da ditadura soviética até seu ocaso.
Isso ocorreu com mais ênfase após a Guerra dos Seis Dias (1967), tendo sido uma surpresa para o governo soviético, que apoiou maciçamente os árabes, a vitória de Israel nesse conflito. A partir daí, intensificaram-se, também, as relações da URSS com os países árabes e com a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), que não aceitava sequer a existência do Estado de Israel. É bom lembrar que este último havia sido criado sob forte patrocínio soviético. Já no ano seguinte, durante a Primavera de Praga de 1968, a imprensa da URSS acusou judeus sionistas de estarem por trás dos movimentos “subversivos” na então Tchecoslováquia (POLIAKOV, 2000).
Em 1975, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), após intenso lobby da URSS, publicou uma resolução considerando o sionismo um tipo de racismo, replicando uma chave retórica importante do período soviético, como já registrado acima. Após 1991, com o fim da União Soviética, mais de um milhão de judeus de ex-repúblicas soviéticas emigraram para Israel e para inúmeros outros para países ocidentais. Eram os отказник (Refuseniks), perseguidos e proibidos de emigrar durante a ditadura (LIPSTADT, 2019). Naquele mesmo ano de 1991, a agora independente Rússia fez questão de que a citada resolução da ONU fosse revogada, o que de fato aconteceu (HIRSH, 2018).
Fato curioso ocorreu no ano de 2001, durante a Conferência Mundial contra o Racismo, em Durban. Houve uma tentativa de se inserir a ideia de sionismo como racismo na declaração final do encontro, que foi rechaçada.
No entanto, tal ideia, tão típica da retórica soviética, foi registrada em uma declaração de um fórum de Organizações Não Governamentais (ONGs), que ocorreu de modo paralelo à conferência oficial. Esta última repudiou o registro, considerando-o reprodutor de retórica antissemita. Não por acaso, gritos de “morte aos judeus” e faixas com os dizeres “Hitler deveria ter acabado o trabalho” foram registrados no fórum. Além disso, exemplares da já mencionada obra Os Protocolos dos Sábios de Sião, que alimenta teorias conspiracionistas antissemitas desde o século XIX, tendo servido a czaristas, a nazistas e a comunistas, eram vendidos no local (BAYEFSKY, 2017). Importante reiterar que isso se deu em pleno século XXI, quando tanto a Alemanha nazista quanto a União Soviética comunista já eram do interesse de museólogos e de historiadores.
Por fim, reveste-se de grande força didática a maneira como o judeu Henry Morgenthau e sua família apareceram na retórica antissemita do século XX. Morgenthau foi Secretário do Tesouro dos EUA durante o governo Roosevelt e pertencia a uma abastada família. Alfred Rosenberg, principal teórico do nazismo, considerava o sionismo como ala de frente da judiaria mundial e Morgenthau como um dos principais sionistas (BAJOHR, MATTHÄUS, 2015); Goebbels, em 1941, considerou que o Plano Morgenthau foi pensado por um sionista para exterminar os alemães; sob Stálin, em 1952, um dos testemunhos forçados do processo Slansky (vide acima) indicava que a criação do Estado de Israel fazia parte de um novo Plano Morgenthau, perpetrado por sionistas a serviço do imperialismo, para desestabilizar as democracias populares, como a URSS (POLIAKOV, 2000). Nota-se a presença reiterada do termo “sionismo”.
A exposição acima, que não é exaustiva, é de suma importância para que se perceba a gênese e posterior normalização de certa retórica antissemita, que não é estranha, inclusive, ao Brasil (CARNEIRO, 2012).
Chaves retóricas do antissemitismo nas redes sociais
Na rede social Instagram, a característica do registro de um comentário é sua brevidade, pois o destaque nessa rede é a imagem ou a animação. Não se tratando de traçar perfis de usuários, mas, antes, de surpreendê-los em suas interações, a busca por chaves retóricas é perfeitamente compatível com essa flutuação nos diversos registros.
A rede social Twitter tem o padrão de ser aberta ao exame dos anônimos, além da limitação de tamanho do texto. Serve bem, portanto, ao exercício da flutuação e da busca por padrões retóricos.
Em ambas as redes, a origem dos registros será indicada pela expressão “Usuário”, seguida de um número. A presença de perfis falsos utilizados para disseminar conteúdo não tem relevância, pois o objetivo é o de detectar a presença de chaves retóricas antissemitas disponíveis no ambiente virtual, não importando de onde venham. Os registros em língua estrangeira foram traduzidos para o português pelo autor.
Inicialmente, serão elencados alguns comentários presentes no perfil @eva.stories, no Instagram. Trata-se de uma homenagem às vítimas do Holocausto, por meio da divulgação de eventos acontecidos a uma adolescente judia em 1944. Breves comentários são feitos abaixo de cada agrupamento de mensagens.
Ressalta-se que todo o material coletado é de domínio público, de acordo com o art. 1º, III da Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais.
Vamos aos registros:
Usuário 1: “Isso não vai acontecer de novo, já que os judeus estão controlando o mundo.”
Usuário 2: “Propaganda sionista”
Usuário 3: “Nunca esqueçam de quem matou os Romanov e iniciou o comunismo.”
Usuário 4: “Que piada! George Soros deve estar feliz agora!”
Usuário 5: “Morte ao sionismo”
Os comentários acima têm em comum um forte conteúdo conspiracionista, de ligação dos judeus com estereótipos já descritos acima, muito comuns no século passado. À exceção do usuário 3, crítico ao comunismo, não é possível definir a qual espectro ideológico pertencem, pois trazem elementos comuns ao discurso antissemita da extrema direita e da extrema esquerda da época. Mensagens dessa natureza se mostraram muito comuns.
Usuário 6: “Minha questão é a seguinte: toda ação tem uma reação. Quais problemas a comunidade judaica criou na Alemanha?”
Usuário 7: “Seja orgulhoso da Alemanha. Eles certamente lutaram por algo muito profundo que não está na história superficial. Infelizmente, a mídia de massa hoje consumiu nossas almas e nos legou uma frívola e cega (sic).”
Usuário 8: “A Alemanha lutou pelas melhores razões e por um mundo melhor.”
Os comentários acima têm conteúdo de negação dos erros da Alemanha nazista e de reiteração da ideia de “motivação alemã” para o antissemitismo. O mais plausível é que pertençam ao espectro ideológico da extrema direita. A ideia de que a Alemanha nazista respondia somente a uma agressão dos judeus traidores era muito presente nas teorias conspiracionistas da época.
Usuário 9: “Engraçado como Israel está fazendo a mesma coisa com os Palestinos. Espero que esse lixo de filme vá direto para o lixo.”
Usuário 10: “Essa poderia ser a estória da palestina Eva, hoje em dia, no Estado de Apartheid Judeu-Nazi Sionista Teocrático e de Terror de Israel. Interessante como a história se repete, somente com a mudança de atores e participantes.”
Usuário 11: “Israel esqueceu tudo o que aconteceu aos judeus nos campos de concentração e agora estão fazendo o mesmo aos palestinos.”
Usuário 12: “Israel = Genocidas Mundiais. Libertem a Palestina. Que volte Hitler… deixaram muitos judeus sionistas vivos. Não ao ‘Holoconto’”
Usuário 13: “O que vocês acham da Palestina agora? Vocês são iguais aos nazistas e a Hitler.”
Os comentários acima replicam uma retórica presente no período soviético após o rompimento ideológico com o Estado de Israel, como já exposto acima. Destaca-se a relação de identidade que se quer enfatizar entre os nazistas e os judeus ou sionistas. Mesclado a isso, pitadas de negacionismo, como na expressão “Holoconto”. A possibilidade de criticar o governo israelense fica obnubilada pela extrapolação do alvo das críticas e pela virulência de seu conteúdo. O mais provável é que esse discurso esteja ligado, hoje, ao espectro da esquerda. Comentários dessa natureza surgiram bastante amiúde durante o exame das mensagens.
Usuário 14: “A indústria do Holocausto está perdendo seguidores. É necessário alimentar a máquina, entende?”
Usuário 15: “Bem… toda mentira chega ao fim algum dia. Olha como tentam desesperadamente manter essa mentira de pé.”
Ainda o negacionismo presente, ligado, contudo, mais a uma teoria conspiratória pós-Holocausto do que à retórica da época nazista. É mais provável que esteja ligado à extrema direita.
Usuário 16: “Ok, vocês poderiam fazer isso acerca dos escravos também. Por que judeus?”
Usuário 17: “Assassinos de cristãos! Qualquer judeu que não se arrepende e não se volta para Cristo enfrentará um destino pior do que esse.”
Os assuntos tratados nos dois comentários acima surgiram de modo mais isolado e só estão ligados secundariamente à retórica antissemita dos extremos ideológicos do século XX. O último trata do estereótipo judeu alimentado durante séculos pelos cristãos e o primeiro tenta minimizar a importância da pauta do antissemitismo diante de uma pauta dita mais identitária, no caso, ligada aos negros. Curiosamente, as duas abordagens estiveram praticamente ausentes do exame das milhares de mensagens.
Em relação à rede social Twitter, elencam-se os mais significativos registros encontrados mediante a busca pela Hashtag #sionismo. Breves comentários são feitos abaixo dos registros.
Usuário 18: “O ex-presidente José Mujica declarou que a Venezuela é uma ditadura. Claro! Próximo a Rockfeller, Soros e ao Sionismo, pode dizer o contrário?”
Usuário 19: “Reunião da Internacional Socialista na capital sionista não combina muito não…”
Os dois comentários parecem defender a ideia de que o sionismo é contrário à pauta da esquerda ou, ao menos, da esquerda radical. Evita-se o termo “judeu”, como no período soviético. Há a replicação de teorias conspiracionistas que ligavam os judeus ao controle insidioso do sistema financeiro internacional. O mais plausível é que estejam ligados à extrema esquerda.
Usuário 20: “Olha aí… um dos representantes da “seita” dos bildenbergs comandada pelos financistas globais como os Rotshchild. Arquitetos do nosso golpe, tudo na mesma panela do nazi sionismo genocida, traficando cocaína.”
Além de replicar o conspiracionismo típico da velha obra Protocolos dos Sábios de Sião, acrescenta o mote, também conspiratório, de que aparentemente o impeachment de Dilma Rousseff (“nosso golpe”) foi obra de judeus. O mais provável é que se trate de uma postagem ligada à extrema esquerda.
Usuário 21: “Virou maçom assim como todos os ministros do Bolsonaro, assim como todos os generais. Maçonaria acabando com o país desde o governo Temer até este desgoverno. Todos em compasso com o Sionismo mundial.”
A maçonaria também está presente no já citado à exaustão Protocolos dos Sábios de Sião, apesar de não ser tão lembrada quanto seu suposto cúmplice, o sionismo judeu.
Usuário 22: “Isso nem precisaria ser dito, mas ser anti-sionista não é ser antissemita, de qualquer maneira ou forma. Sionismo não é uma crença religiosa, mas uma ideologia conservadora de direita que acredita na ocupação.”
O comentário remete à retórica exposta no jornal soviético Крáсная звездá (Krasnaya Zvezda), que inaugurou a chave retórica de que o antissionismo não se confunde com antissemitismo, como já descrito anteriormente.
Usuário 23: “Sionismo sendo muito bem sucedido em dividir os países subdesenvolvidos, destruir o verdadeiro nacionalismo e assim controlar e doutrinar novas gerações… Sempre controlando tudo através dos bancos, dívidas, fundos, indústrias, política… etc.”
Novamente, reitera-se a retórica conspiratória ligada à dominação sionista internacional, presente em ambos os extremos ideológicos do século XX. Difícil definir, portanto, qual o viés ideológico que subjaz à mensagem.
Usuário 24: “Quem foi que pediu pra gente tratar do assunto de embaixada do Brasil saindo de Tel Aviv pra Jerusalém? Onde está essa discussão? Ninguém colocou isso. A não ser os acordos clandestinos com o sionismo radical e essa vassalagem ao Trump.”
O comentário acima foi realizado por um candidato à Presidência da República no Brasil e surgiu no exame das mensagens do presente trabalho. “Acordos clandestinos com o sionismo” é chave retórica de origem no antissemitismo tanto nazista quanto stalinista, mas sabe-se que o candidato se apresenta como sendo da esquerda do campo político.
Usuário 25: “O sionismo é o lixo do mundo, criando caos e condicionando as pessoas à própria ruína através do domínio do sistema financeiro e de governos de grandes impérios. Devem ser extintos para o bem da humanidade!”
A mensagem reitera os elementos conspiracionistas que, como já foi aqui mostrado, já serviram aos czaristas, aos nazistas e aos comunistas. Difícil definir uma posição política a partir de seu conteúdo, que se adequa tanto à extrema direita quanto à extrema esquerda.
Considerações finais
Nas redes sociais analisadas neste estudo, foram encontradas reações com substrato antissemita que parecem vir de ambas as matrizes ideológicas. A palavra “reação” não é utilizada por acaso. O conteúdo tecnicamente reacionário é característico tanto da extrema direita quanto da extrema esquerda, ambas essencialmente antiliberais e presas a autoritarismos anacrônicos.
O dado mais interessante dos registros antissemitas elencados é a emulação ou recuperação de uma linguagem típica do antissemitismo do século XX, aquela utilizada pelas ditaduras nazifascistas, por um lado, ou pela ditadura soviética, por outro. Tais discursos têm em comum uma convergência aos mesmos estereótipos pejorativos ligados a judeus, como uma suposta ambição por lucro, a ideia de controle do sistema financeiro, uma pretensão de dominação mundial subliminar, entre outros.
Não se pode chegar sempre à conclusão de que os registros elencados tenham vindo, por um lado, de neonazistas ou, por outro, de stalinistas tardios. O ponto fulcral é a constatação de que uma retórica antissemita ligada à extrema direita e à extrema esquerda do século XX ainda perdura no discurso sobre os judeus e sobre o Estado de Israel.
Alguns governos israelenses deram e dão margem, por certo, a críticas, mas não faz sentido uma extrapolação do alvo dessas análises. O que se tem visto é a reprodução de estereótipos pejorativos ligados a judeus, tanto por parte de quem é claramente antissemita quanto por parte de quem perpetua tais chaves retóricas achando que faz uma crítica procedente ao governo de Israel. Infelizmente, isso dificulta a necessária crítica ponderada ao governo de Israel em relação à Questão Palestina.
O mais comum, por sinal, é não haver uma distinção nítida entre governo e Estado de Israel e entre judeus e sionistas em tais discursos. A tentativa mesma de caracterização do sionismo e do antissionismo como distantes do antissemitismo finda invariavelmente reforçando modelos quase folclóricos de judeus presentes nos extremismos do século XX.
O arcabouço legal nem sempre é claro o suficiente em relação ao tipo penal de racismo em geral e de antissemitismo em particular, o que dificulta seu combate. No Brasil, o emblemático caso (Siegfried) Ellwanger, que publicou livros considerados antissemitas, foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com base no Art. 20 da Lei n. 7.716/1989, com redação dada pela Lei n. 9.459/1997, além, claro, da Carta Magna.
Detalhe de suma importância: Ellwanger se defendeu dizendo, entre outras coisas, que era um antissionista e que antissionismo não se confundiria com antissemitismo (VIOLANTE, 2010). Foi um caso claro em que um representante do espectro ideológico da extrema direita utilizou um argumento cuja gênese remonta ao stalinismo, de extrema esquerda. Neste episódio, o STF se mostrou um pouco mais sofisticado do que a velha retórica hitlerista-stalinista do século XX.
*Este trabalho, com algumas modificações, foi apresentado no VI Encontro Nacional de Antropologia do Direito (ENADIR), em São Paulo (agosto de 2019).
[1] Optou-se, aqui, pela manutenção da grafia tradicional do Instagram, que identifica o nome de um perfil por meio da prévia inserção do símbolo “@”.
[2] Desnecessário registrar que a teoria conspiratória segundo a qual o Acordo Haavara de 1933, sobre transferência de judeus para o Oriente Médio, seria uma prova de que Hitler se configuraria, ele mesmo, como um sionista, não se sustenta (SCHULZE, 2016).
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