O objetivo é tratar acerca da chamada nova esquerda pós-materialista no âmbito brasileiro. Aconselha-se ao leitor interessado que leia, antes, o primeiro texto sobre o assunto, que explica de maneira ampla o que se entende por essa nova esquerda, em uma abordagem mais universal, mas também referindo-se tangencialmente a países de evolução democrática peculiar, como o Brasil. Esse cuidado não é obrigatório, mas facilita um pouco a compreensão do tema.
Nova esquerda pós-materialista
Como visto, os grandes e fracassados experimentos totalitários da Europa no século XX, a saber, o nazi-fascismo e o comunismo, findaram mostrando que saídas reacionárias e autoritárias, tanto à esquerda quanto à direita, devem ser evitadas ao máximo.
Na Europa Ocidental, isso deu margem ao fortalecimento da social-democracia, no âmbito da esquerda, como saída moderada para a questão. Acabou tornando-se a mais eficiente configuração da esquerda de que se tem notícia, do ponto de vista de seus resultados práticos. Superou, de longe, as ditaduras comunistas em termos de bem-estar, de oportunidades, de igualdade, de equidade e, principalmente, de respeito aos direitos civis. Foi a prova cabal de que não são justificadas posições autoritárias e repressão “em nome da causa”. Desse ponto histórico em diante, o perfil daqueles que ainda defendiam (ou defendem) opções de extrema esquerda passou a ter, não por acaso, curiosas e irônicas similaridades com fundamentalistas religiosos. Não à toa, é muito comum serem assim percebidos pela maioria da população de democracias estáveis.
A nova esquerda de que trata este texto, contudo, não é especificamente a da social-democracia. Antes, refere-se à tendência que surgiu originariamente nos Estados Unidos e na Europa Ocidental após o período de estabilidade política e de expansão econômica do pós-guerra. Suas consequências práticas começaram a emergir em fins da década de 1960 e estendem-se até hoje. Seu surgimento se deu a partir de um substrato de (1) garantia de necessidades materiais básicas e de (2) estabilidade e liberdade políticas, o que abriu espaço para reivindicações para além daquelas ligadas à sobrevivência digna e aos direitos civis básicos. A pauta da esquerda atual, excetuando-se aqui a inevitável minoria ainda saudosa das ditaduras de extrema esquerda, deve muito a essa tendência. Qualidade de vida, questões ambientais, direitos da comunidade LGBT, direitos das mulheres, direitos da comunidade negra e uma forte refratariedade a autoritarismos são alguns dos tópicos valorizados por esse grupo. Alguns desses temas estavam embrionariamente presentes até mesmo na revolução de fevereiro de 1917 na Rússia, mas foram sepultados pelo movimento de outubro do mesmo ano e durante as décadas vindouras da ditadura soviética. Por meio da nova esquerda, já na segunda metade do século XX, essas pautas foram postas de maneira agora inescapável. A tendência foi nomeada por Inglehart1 e Savage2 de “Nova Esquerda Pós-materialista”.
No Brasil, o fenômeno da sociedade pós-materialista (de Inglehart) não deixou de ocorrer, mas se deu de modo tardio e limitado, notadamente após o período de relativa previsibilidade econômica iniciado pela estabilização monetária e pelo controle da inflação dos anos de 1990, a partir do Plano Real, até as exitosas políticas públicas de mitigação da pobreza do governo Lula. Teve e tem, no entanto, uma caracterização peculiar, relacionada a aspectos singulares do país. Sua análise é de suma importância para bem entender alguns acontecimentos políticos recentes, bem como algumas reações populares a estes. É proveitoso realizar a abordagem utilizando-se de um breve retrospecto da evolução política brasileira a partir do regime autoritário implantado com o golpe de 1964, dando ênfase, aqui, à esquerda.
Uma esquerda limitada pela ditadura militar: a lacuna social-democrata
Emergiu da malfadada ditadura militar (1964-1985) – que interrompeu de maneira duradoura o amadurecimento democrático brasileiro – uma esquerda mais voltada para o polo radical desse espectro ideológico, de viés belicoso e revolucionário. Seu objetivo, por vezes, não era defender a implantação de uma democracia, mas, antes, lutar contra o regime autoritário de direita, algo plenamente justificado. Ditaduras de extrema esquerda, como a cubana e a soviética, tornaram-se seus modelos paradigmáticos. Tratava-se de um movimento reacional radical diante de um governo autoritário injusto (qualidade de qualquer regime autoritário).
Por conta desse ambiente politicamente inóspito, a esquerda da social-democracia europeia, importante já desde o pós-guerra imediato dos anos de 1950, não encontrou terreno fértil no Brasil e na América Latina. Acabou sendo considerada por essa esquerda extremada, durante muito tempo, como mero estratagema capitalista para enganar os mais ingênuos.
Período de redemocratização
Logo após a ditadura, o grupo político que assumiu o poder no país, durante a era Sarney, era mais ligado a setores que haviam apoiado o regime militar. O governo Collor, que, enquanto candidato, agiu como se flertasse com o Liberalismo Social, descrito mais à frente, traiu francamente seu próprio discurso e assumiu uma postura tanto politicamente desastrada quanto economicamente irracional, configurando um verdadeiro estelionato eleitoral. O impedimento do então presidente foi a consequência disso. Após esse episódio e seguindo-se ao interregno de Itamar Franco, pode-se considerar que, desde o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) até o impedimento de Dilma Rousseff, o comando político imediato do país ficou nas mãos de pessoas que participaram ativamente de uma oposição de esquerda à ditadura militar, mais ou menos radical. O governo FHC, com suas reformas liberalizantes e tendente ao respeito à racionalidade econômica, foi tachado como “de direita” pelo grupo majoritário da esquerda à época, que tinha um viés mais radical, pelos motivos já elencados. Uma análise mais isenta poderia classificar esse período como de centro-direita (sobre a questão acerca da existência ou não de uma centro-direita digna desse nome no país, leia esse outro texto).
Uma esquerda amadurecida à vista?
Acontece, então, um importante ponto de inflexão, que parecia representar um valioso movimento da esquerda brasileira em direção a uma posição mais moderada e moderna. Com a publicação, no ano de 2002, da famosa Carta ao Povo Brasileiro, o então pré-candidato Lula e o Partido dos Trabalhadores passam a defender um “equilíbrio fiscal consistente e duradouro” e afirmam que “a estabilidade, o controle das contas públicas e da inflação são hoje um patrimônio de todos os brasileiros”, além de sublinharem “o caminho do crescimento econômico com estabilidade e responsabilidade social”3. Era algo impressionante para uma esquerda que, até há pouco, defendia, de modo oitocentista, a interrupção imediata do pagamento da dívida pública e bradava sobre luta de classes e coletivização dos meios de produção.
Mais de uma década depois de Collor de Mello ter se apropriado, de um modo que se mostrou posteriormente desonesto, de um discurso econômica e politicamente modernizante, parecia que finalmente o Liberalismo Social tinha tido sua oportunidade real. E foi o que aconteceu. Tal linha de pensamento, que teve em José Guilherme Merquior seu grande defensor no país, propugna o respeito a regras econômicas liberais e racionais, aliadas a uma postura ativa do Estado – porém baseada em efetividade empírica – frente a problemas de cunho social4. Assume que a economia de mercado é efetiva em produzir a necessária riqueza, mas também que o Estado deve, sim, intervir para garantir as necessidades materiais básicas, além da equidade de oportunidades, por meio de políticas públicas ligadas à educação, à saúde e à assistência social que sejam sustentáveis. Em suma, um Estado protetor em relação às questões sociais e limitadamente promotor em relação aos problemas econômicos. Merquior considerava-se um “liberal em economia, social-democrata em política e anarquista em cultura”5. Isso descreve bem, de fato, o que foi o rumo do primeiro mandato de Lula, curiosamente o mais representativo daquilo que propugnava Merquior (já falecido quando aquele assumiu a presidência), um intelectual fortemente criticado pela antiga esquerda brasileira, aquela de sua época.
Lula, então, escolheu ter uma equipe econômica formada por pessoas como Henrique Meirelles, Marcos Lisboa, Alexandre Schwartsman, Joaquim Levy (todos economistas liberais). Não teve pudor, diante do fracasso e das claras limitações do programa Fome Zero, em dar prioridade total ao Programa Bolsa Família, que teve a crucial participação de Ricardo Paes de Barros, economista doutor pela Universidade de Chicago (bastião do pensamento econômico neoclássico – ou neoliberal, para seus críticos homogeneizantes), que defendia, entre outras coisas, a focalização na atenção social (o que é inaceitável para os “universalistas” de viés marxista). Paes de Barros acabou tornando-se o “Pai do Bolsa Família”, que virou referência internacional. Tudo indicava que um salto rumo a uma nova esquerda moderada e moderna havia sido dado no país e, de fato, as políticas implantadas pelo grupo elencado acima – mais pautadas pela racionalidade do que por dogmas ideológicos – tiveram grande sucesso, além de marcante efetividade, ao contrário do que querem fazer crer seus críticos, preponderantemente da direita. O mérito de Lula ao permitir isso sem preconceitos ideológicos foi claro. Uma análise mais isenta poderia classificar esse período como de centro-esquerda.
Limitações da esquerda brasileira no poder: ainda assombrada por velhos cacoetes
Mas não havia somente rosas. Uma característica do numeroso grupo que assumiu o poder com Lula ajudou a corroer essa aparente benignidade a toda prova. Juntamente com o então presidente e com o pequeno grupo do Partido dos Trabalhadores que tinha uma visão mais nítida e racional, veio um imenso contingente de militantes e de simpatizantes que não tinha uma clara consciência dessas nuances mais complexas acerca dos arranjos econômicos e sociais. Para eles, era simplesmente sua vez no poder e sua percepção de mundo estava fortemente limitada a lugares-comuns da esquerda tradicional, mais ortodoxa e autoritária.
Tratava-se, em sua maioria, de filiados e de pessoas ligadas a sindicatos, a partidos políticos satélites do PT ou a facções mais radicais do mesmo e, também, a um ou outro movimento social. Essa verdadeira multidão ainda padecia, de modo latente ou explícito, de todas as limitações daquela esquerda que emergiu da ditadura brasileira, como descrito acima, nada moderada e algo anacrônica. É útil fazer uma comparação com o que aconteceu com o Partido Trabalhista britânico, importante agremiação de esquerda que, em seus primórdios, esteve intimamente ligada aos sindicatos e a alguns movimentos sociais e que só conseguiu provar sua viabilidade política após desconectar-se desses grupos, pois estes já haviam, com o tempo, perdido sua característica de representação da massa trabalhadora para se tornar meros grupos políticos que queriam se beneficiar do aparato do Estado, como indica Thorpe6.
A esquerda brasileira, então, que parecia ter dado um passo que a aproximava mais de uma esquerda europeia amadurecida, não logrou provar que havia feito isso de modo sólido e plenamente consciente. Esse detalhe, por sinal, já poderia ser notado, desde 2003, por quem observasse com mais cuidado a contaminação ideológica de viés mais arcaico que estava presente em algumas áreas específicas, como, por exemplo, a da política externa, notadamente aquela para a América Latina. Seu antiamericanismo e anacrônico terceiro mundismo, quase adolescentes, ignoravam as novas configurações sócio-políticas do século XXI e mantinham-se acorrentados aos séculos XIX e XX. Em relação a este último ponto, é digno de nota o quanto tal percepção de parte da militância era desconectada da realidade, em um momento em que, pela primeira vez na história da humanidade, um presidente dos Estados Unidos tornou-se amigo pessoal de um presidente do Brasil (George W. Bush e Lula da Silva), algo explicitado – por atos e falas – em alto e bom som por ambos, mas sequer admitido por alguns que ainda pensam em termos do “demônio capitalista” e do “império opressor”.
Complementarmente, chamou atenção, mais do que o fato em si – este já tradicional na política brasileira –, a maneira algo agressiva de ocupação do aparato estatal por aquela já citada multidão militante, não raras vezes sem condições técnicas para tal. Foi o velho patrimonialismo de Raymundo Faoro, agora em um tom “partisan”.
Por conta dessas limitações e a despeito da promissora postura econômica e social do primeiro mandato de Lula, o PT brasileiro (e toda a esquerda que o orbitava) não conseguiu dar o passo crucial que fora dado pelo Partido Trabalhista britânico, acabando por se enredar em suas próprias contradições e conflitos ideológicos.
Foi questão de tempo (e de queda nos preços das commodities) para que as destacadas e importantes áreas econômica e social fossem irremediavelmente contaminadas, principalmente no governo de Dilma Rousseff, pleno de um voluntarismo irracional e embasado em percepções ultrapassadas. A área econômica foi afetada por uma heterodoxia esdrúxula, a ponto de surpreender o keynesiano mais empedernido, ao passo que a área social descambou para uma hipertrofia assistencialista que combinava mais com o populismo que contaminava a América Latina do que com a racionalidade econômico-social sustentável e eficiente que prevaleceu no primeiro mandato de Lula.
A esquerda brasileira mostrou, assim, ainda estar em uma marcha francamente claudicante em direção à sua modernização. Se, na Europa, as catástrofes do nazismo e do comunismo deram margem à construção de uma esquerda mais moderada e racional, no Brasil, a perniciosa ditadura militar, filhote da Guerra Fria, parece ter dado azo a uma esquerda que tem imensa dificuldade de trilhar esse caminho, já em pleno século XXI. Não logrando atingir sequer o ponto de maturidade social-democrata, a esquerda tradicional brasileira não conseguiu (e não consegue), muito menos, compreender a nova esquerda a contento.
Nova esquerda pós-materialista no Brasil
No âmbito brasileiro, é nesse ponto histórico que se torna relevante o debate acerca da nova esquerda pós-materialista. Como a ditadura militar acabou em 1985 e como a estabilidade econômica teve início na primeira metade da década de 1990, houve tempo hábil para que uma geração crescesse sob influência desse ambiente político-econômico mais previsível e estável, mesmo que isso tenha se dado no âmbito preponderante da classe média, tanto a tradicional quanto principalmente uma mais nova, surgida a partir das condições econômicas mais propícias. Uma característica da nova esquerda pós-materialista, como descrita na Ciência Política, é surgir a partir de ambientes que já superaram, de modo geral, o problema das carências materiais mais básicas e que conseguem manter um ambiente político mais estável e plural. Da miséria e do autoritarismo (de direita ou de esquerda), portanto, nunca emergiu uma nova esquerda.
Novas pautas se fortaleceram no Brasil, não por acaso coincidentes com aquelas enumeradas por Inglehart já nos anos de 1970, como a questão ambiental, a sustentabilidade, a qualidade de vida, os direitos LGBT, a igualdade de gênero, etc., tudo temperado por características específicas da atualidade, como a internet e as redes sociais. Isso não foi e parece não estar sendo notado de modo nítido pelos poderes constituídos no Brasil e mesmo pela oposição. Eles têm, no máximo, lidado com esse grupo seguindo uma estratégia puramente reacional.
Protestos de 2013 e sua não compreensão
O momento em que essa tendência se mostrou de modo mais nítido, com imensa capacidade de mobilização, foi nos até hoje pouco compreendidos protestos de 2013. A crítica dirigida aos manifestantes, à época, tanto por parte de uma direita mais conservadora e avessa a conflitos, quanto de uma esquerda mais clássica e que se achou usurpada de seu antigo monopólio das ruas, é sintomática de um fenômeno que era novo no Brasil e insondável para quem tentava traduzir os fatos seguindo uma gramática já superada, tanto de direita quanto de esquerda. Cumpre destacar a análise do já citado Inglehart acerca dos protestos de 1968 em Paris. Segundo ele, tratava-se, na sua maioria, de integrantes de uma primeira geração que cresceu após a estabilização da Europa ocidental no pós-guerra (a Segunda Guerra Mundial findara há pouco mais de vinte anos) e para os quais tanto a direita quanto a esquerda, da maneira engessada e institucionalizada como se configuravam, não respondiam mais a seus anseios. Foi o que ele descreveu como uma “mudança intergeracional nas sociedades pós-industriais”7. Poucos articulistas lembraram-se da relação possível entre os protestos de 2013 no Brasil e os de 1968 na França, para além da óbvia e simplória analogia de um aglomerado indócil e mal compreendido8. Cumpre lembrar que os protestos de 1968 no Brasil foram contra a ditadura militar e a este mote ficaram limitados, por motivos óbvios.
Por seu turno, os protestos de 2013 aconteceram por volta de vinte anos após a estabilização monetária do país, que trouxe, como já analisado, previsibilidade e estabilidade a uma importante parcela da sociedade que antes tinha que lutar por sua sobrevivência imediata. Houve claramente uma mudança geracional de natureza singular, nos moldes daquela descrita por Inglehart. O que mais facilmente se depreendia desses protestos era uma grande insatisfação em relação a péssimos serviços públicos que deveriam estar sendo prestados ao povo de maneira adequada, numa clara luta pela merecida qualidade de vida (não somente pela vida). Agregou-se imediatamente a isso a pauta ligada ao meio ambiente, à comunidade LGBT, à comunidade negra e outras, todas características desse novo nicho ideológico.
Antes, havia um quase monopólio de protestos de rua por parte de grupos específicos que tinham reivindicações ligadas estritamente a seus interesses imediatos e que se conectavam de maneira difusa a um discurso algo homogêneo da antiga esquerda. Muitos deles, inclusive, eram membros daquele mesmo serviço público que não assistia a população a contento, muitas vezes não somente por mera falta de orçamento. Buscavam, em suma, a legitimação de uma casta pretensamente esclarecida que lutava “pelo povo” e que merecia, portanto, privilégios. Não havia, assim, interação possível entre os manifestantes de 2013 e essa esquerda corporativa e limitada. Não à toa, bandeiras de partidos políticos da esquerda tradicional e de movimentos sociais ligados fisiologicamente a eles foram destruídas durante os protestos.
De 2013 para cá, parece não ter havido uma real absorção do fenômeno pós-materialista por parte da elite política do país, ainda por demais desconectada dessa realidade. Por ocasião dos protestos contra o governo de Dilma Rousseff e que pediam seu impedimento, já em 2015, essa nova esquerda praticamente não foi às ruas, mas tampouco defendeu o PT e seus aliados, tanto por estes terem, ao fim, posto em risco a estabilidade econômica que deu margem a seu próprio surgimento enquanto grupo, quanto pelo fato de suas novas pautas terem sido solenemente ignoradas pelo governo do Partido dos Trabalhadores. Cite-se como exemplo a questão do casamento homoafetivo, que foi resolvido somente pelo judiciário (Supremo Tribunal Federal e Conselho Nacional de Justiça), após pressão popular difusa e diante da inércia dos políticos. Matias Spektor apontava, em artigo de 2013, o quanto o governo de então pouco ou nada fazia por essa causa e como explicitamente “pactua[va] no Parlamento com quem faz da homofobia uma bandeira”9.
De uma direita ainda caudatária daquela que teve imensa dificuldade em aceitar até mesmo a Lei do Divórcio, em fins dos anos 1970, e de uma esquerda ainda caudatária daquela que tinha a ditadura cubana como modelo, onde homossexuais eram mandados a campos de trabalho forçado até o início dos anos 1980, não se podia esperar muito, de fato.
Miopia ideológica e Protestos de 2013 – o velho não sabe do novo
Deste modo, a direita e a esquerda tradicionais buscaram explicações para o fenômeno das ruas de 2013 que, o mais das vezes, descambaram na batida armadilha da lógica clássica de se tentar montar uma narrativa dotada de um simulacro de coerência, mas com o objetivo único de corroborar conclusões já previamente assumidas, estas baseadas em dogmas fossilizados e em cacoetes ideológicos, sem aderência aos fatos e às evidências. De fato, para quem acredita em dogmas, um leve vislumbre de verossimilhança é suficiente para se assumir uma versão. Muitas vezes, nem isso.
Exemplo paradigmático dessa postura é a tese que defende que os protestos de 2013 foram, na verdade, localizados e focais, tomando um âmbito de influência nacional mediante uma construção artificial da grande mídia, que provocou essa impressão para manipular as massas contra um governo “verdadeiramente progressista”, o que acabou por redundar em um desgaste tal que abriu caminho ao posterior impedimento da Presidente da República, tudo urdido por uma conspiração da direita conservadora “satanicamente refinada e sofisticada”10. No que concerne às manifestações de 2013, sem adentrar em méritos outros, trata-se de uma análise, no mínimo, desatrelada do mundo objetivo.
Lamentavelmente, sobram exemplos semelhantes ao acima citado, vindos de uma esquerda que teima em se aferrar ao passado e em decepcionar quem vislumbrou o que parecia ser uma notável evolução, principalmente no primeiro mandato de Lula.
O mesmo Lula, hoje, brada que os protestos de 2013 foram urdidos pela CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA) e que é um erro considerar que foram democráticos11. Fernando Haddad, que poderia ser um nome promissor para um novo paradigma de esquerda, insinua, em longo texto na revista Piauí12, que as manifestações de 2013 não foram exatamente espontâneas e que Putin (dirigente da Rússia, ora presidente, ora primeiro-ministro) e Erdogan (dirigente da Turquia, ora presidente, ora primeiro-ministro) avisaram Dilma Rousseff e Lula de que haveria um verdadeiro complô digital contra eles, que dirigia os rumos dos protestos. A análise da tese defendida por esses ilustres políticos desestimula a crença em uma esquerda moderna: (1) Haddad foi, juntamente com o governador paulista Geraldo Alckmin, responsável direto por uma resposta desastrada aos protestos daquele ano, (2) Putin se notabilizou como o idealizador do maior aparato de manipulação digital do mundo (nem os soviéticos conseguiram influenciar uma eleição para presidente dos EUA!), além de notório defensor de políticas homofóbicas e retrógradas, e (3) Erdogan já contabiliza milhares(!) de presos políticos, após desencadear um crescente reacionarismo para se perpetuar no poder e acabar com o caráter secular do Estado turco, destruindo até o legado do lendário Atatürk. Ironicamente, a versão online do jornal russo Pravda já publicou artigo defendendo a tese de Lula ser um agente da… CIA13! Não há, por certo, o mínimo resquício de algo progressista na defesa de qualquer uma dessas versões e as mesmas carecem de sustentáculos factuais. Acabam tendo, ao exame, a estrutura clássica das teorias conspiratórias, que assumem, hoje em dia, a alcunha de “pós-verdade”.
Tais “narrativas” lembram, não por acaso, as teses de uma esquerda arcaica que defendia a ideia de que as grandes ditaduras comunistas ruíram por conta das conspirações reacionárias do capitalismo ocidental, sendo, na verdade, dotadas de uma virtude intrínseca, apesar de algumas “contradições” internas localizadas (eufemismo para censuras, torturas, execuções, etc). Nada mais distante do mundo real do que essa tentativa de perpetuar suas próprias crenças ideológicas e seus dogmas.
Uma nova esquerda sem representação e sem tradução
Não à toa, uma grande parcela dos que pertencem, de fato ou potencialmente, ao espectro ideológico da esquerda encontram-se, hoje, órfãos e não se acham representados no Brasil. Não viram a construção de uma esquerda social-democrata nos moldes europeus, apesar de alguns “alarmes falsos”, e, muito menos, tiveram da parte do mundo político a devida percepção para o que se pode nomear como Nova Esquerda Pós-materialista.
A dificuldade em se traduzir esse fenômeno não é menos presente no atual governo, que é notoriamente de direita. Isso fica claro quando, por exemplo, cometeu o equívoco fundamental de nomear um ministério exclusivamente masculino em sua estreia, após o afastamento de Dilma Rousseff. Registre-se que o governo, além de ter cometido um erro tão básico, sequer teve capacidade de caracterizá-lo enquanto tal. Até hoje, parece haver a compreensão de que o problema foi o de ter ferido suscetibilidades e não o de ter feito algo tão absolutamente errado quanto proibir mulheres de ir à praia, o que denota um grave distanciamento de uma realidade, com o perdão da redundância, já descrita na Ciência Política desde os já distantes anos de 1970.
Quando o atual primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, foi perguntado acerca do porquê de ter escolhido um gabinete de ministros com um número igual de mulheres e de homens, ele respondeu o óbvio: “porque estamos em 2015”14.
Apesar das manifestações contra o governo Temer serem preponderantemente de militantes de partidos políticos, de sindicatos e de movimentos sociais ligados, por vezes de maneira fisiológica, ao governo anterior, os passos do grupo político atualmente no poder dão margem a que uma parte dessa nova configuração da esquerda no país, incompreendida de lado a lado, passe a ter motivos para reclamar. Menosprezar e ser menosprezado por esse grupo pode ser fatal. Após os protestos de 2013, Dilma Rousseff e o PT não conseguiram mais recuperar sua popularidade e o caminho descendente foi sem volta.
Reação da velha esquerda: de volta para o passado
Infelizmente, a esquerda alijada do poder tem se defendido buscando abrigo em um discurso que remete a um passado ideológico anacrônico, mais parecido com aquele de uma esquerda militante latino-americana dos anos 1970 ou 1980. Ao defender publicamente, por exemplo, as condutas reacionárias e brutais de Maduro na Venezuela15, 16 – ele mesmo um notório homofóbico17, 18 e repressor explícito de seu próprio povo –, só consegue aumentar em muito seu distanciamento dos novos grupos progressistas, insondáveis para essa esquerda ultrapassada e fossilizada.
Enquanto o Canadá (de Trudeau), o Uruguai (de Mujica) e a União Europeia inteira (desde o francês Macron até o grego Tsípras, do radical Syriza) condenam Maduro em notas oficiais e não aceitam o resultado de eleições que lembram aquelas realizadas em Angola ou em Cuba, a esquerda brasileira emite notas de apoio à “verdadeira democracia bolivariana”. É curioso lembrar que Lênin, após dissolver a assembleia constituinte na qual seu partido não conseguiu uma maioria, chamou a brutal ditadura soviética de “a verdadeira democracia”. Essa verdadeira cegueira ideológica, cheirando a naftalina do século XIX, somente isola a esquerda partidária brasileira de qualquer traço verdadeiramente progressista.
Esse abismo foi bem descrito pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano, alguém que conseguiu olhar para o mundo e observar sua mudança, quando declarou em 2014, acerca de seu livro “As Veias Abertas da América Latina”, que “não seria capaz de reler esse livro. Cairia dormindo. Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é chatíssima. Meu físico não aguentaria. Seria internado no pronto-socorro”19. Emendou, ainda, que a esquerda ocasionalmente “comete erros graves” quando está no poder, referindo-se à Cuba dos Castro e à Venezuela de Chávez-Maduro.
Talvez Galeano tenha forjado, por fim, a melhor definição da nova esquerda e de sua incompreensão por parte da esquerda arcaica: “a realidade é muito mais complexa exatamente porque a condição humana é diversa. Alguns setores políticos próximos a mim acreditavam que essa diversidade era heresia. Mesmo hoje, sobrevivem pessoas desse tipo que acreditam que toda diversidade seja uma ameaça. Felizmente, não é”20.
A antiga esquerda não conseguiu entender que a diversidade citada por Galeano refere-se, acima de tudo, àqueles (da direita e da esquerda) que pensam (bem) diferente dela e que imaginam soluções legítimas, mas incompatíveis com seu anticapitalismo e antiamericanismo graníticos e perigosamente ingênuos e manipuláveis, que impedem a verdadeira crítica ao sistema e reiteradamente caem em armadilhas autoritárias. Quando a velha esquerda brasileira considera como “fascista” um nome como o de Henrique Capriles na Venezuela, um claro representante da centro-direita achincalhado por Maduro por ser homossexual e por defender continuamente os direitos LBGT (“É um viado!” “Eu, sim, tenho mulher. Escutaram? Eu gosto de mulheres!”21), perde qualquer noção de diversidade de opiniões. O “outro”, mesmo que de centro-direita moderada, torna-se o demônio, um inimigo do povo que deve ser anulado. Em 2017, Capriles teve seus direitos políticos cassados por 15 anos e a medida foi aplaudida por vários grupos de esquerda no Brasil.
Registre-se que as pautas da nova esquerda não eram de todo estranhas no Brasil, mas não conseguiram florescer, de fato, senão recentemente. À época em que elas começaram a surgir nas democracias ocidentais, em fins dos anos 1960 e início dos anos 1970, o país vivia uma ditadura de direita e tinha, como visto, uma esquerda preponderantemente radical. A esquerda brasileira mais ortodoxa até tentou absorver um pouco dessa efervescência libertária, mas o ruído foi claro. Imensamente refratária a autoritarismos, a nova tendência progressista nunca poderia se coadunar perfeitamente com militantes que defendiam ditaduras como a cubana e a soviética, detentoras de posturas bastante reacionárias em relação à comunidade LGBT e às mulheres, por exemplo. Causas como a feminista e a dos direitos de casais homoafetivos foram imensamente limitadas, nessa época, pela pobre conjuntura política brasileira (da ditadura e da resistência) e findaram mais em uma retórica vazia e contraditória, algo que hoje classificaríamos facilmente como de “posers” ou verdadeiro “pinkwashing”. Até agora, em plena segunda década do século XXI, é possível testemunhar membros de uma “ancienne gauche” tentando desajeitadamente assumir causas da nova esquerda, mesmo que incompatíveis com o “pacote ideológico” da velha esquerda. Nada mais desajeitado, de fato, do que um militante da esquerda tradicional achando que pode reverberar o discurso da nova esquerda sem abrir mão de seu refugo ideológico dogmático.
O que os movimentos da nova esquerda dos países democráticos provaram, acima de tudo, foi que a sociedade somente evolui em um ambiente de mínima liberdade civil. Governos reacionários, de direita ou de esquerda, não permitem isso. Membros da esquerda tradicional e autoritária tentando assumir a pauta da nova esquerda parecem elefantes tentando, em vão, andar em uma loja de cristais. Por conta disso, quanto mais os partidos brasileiros de esquerda continuarem se voltando para o passado (como no caso da Venezuela), mais ficarão isolados do novo progressismo, mesmo que tentem, eles e seus grupos associados, emular inutilmente um discurso moderno.
É passível de dúvida, inclusive, se um grupo político como o de Marina Silva, que tem algumas (não mais do que isso) pautas coincidentes com as da nova esquerda de conformação pós-materialista e que defendeu – no primeiro turno de 2014 – uma política econômica mais racional, pode preencher o espaço político demandado por esse novo, ao menos no Brasil, filão ideológico.
Por seu turno, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) parecia, em determinado momento, querer flertar com esse nicho ideológico, o que seria algo auspicioso em um ambiente politicamente pobre, sectário e anacrônico como o brasileiro. Infelizmente, o PSOL, entre outras coisas, emitiu a nota oficial “Toda solidariedade à revolução bolivariana”, em que apoiava abertamente a escalada reacionária do governo de Maduro. Isso ocorreu já em meados de 2017, quando a repressão do governo bolivariano já contabilizava muitas dezenas de mortos e as torturas já eram denunciadas por órgãos oficiais da ONU. Houve controvérsias dentro do partido acerca dessa posição, mas restou a sensação de que o velho refugo autoritário ainda estaria impregnado por lá. A reação nas redes sociais, por jovens que se identificam com a esquerda, foi emblemática: “Alguém avisa ao PSOL que eles estão no mínimo uns 200 anos no passado, e que apoiar ditador é feio. É por essas e outras que eles perdem meu voto” ou “É o caso clássico de gente que trata política como religião. Isso é um desserviço aos ideais da esquerda”. É fácil notar que há uma considerável parcela politicamente órfã nesse espectro ideológico. Quem conseguirá representar uma verdadeira Nova Esquerda no Brasil ainda é, portanto, uma questão em aberto.
Ainda esperando
Não se trata, tão somente, de tentar agregar ao arcabouço político-ideológico tradicional as novas demandas desse conjunto progressista da sociedade, mas, antes, de se desapegar dos antigos cacoetes de uma militância, de direita ou de esquerda que seja, que continua a ter dificuldades em compreender ou aceitar esse fenômeno.
A evolução da configuração de esquerda no mundo e no Brasil pode, assim, ser rastreada a partir dos acontecimentos mais importantes do século XX e do início do século XXI e sua compreensão tem grande relevância no entendimento da maneira como se põem, no tabuleiro de forças de poder, seu inegável poder de reivindicação e suas pautas.
Particularmente no Brasil, a influência de fatores históricos específicos e a dificuldade em se depreender, a partir da realidade atual, o papel dessa nova conformação ideológica, têm provocado ruídos e tensões que parecem não estar sendo bem trabalhados pelos políticos e por seus assessores. Estes, em sua maioria, ainda estão presos a uma dicotomia ideológica anacrônica e que não tem aderência aos fatos observados nos tempos atuais.
A configuração de uma Nova Direita Pós-materialista, bastante liberal tanto na economia (o que a difere bastante da nova esquerda) quanto nos costumes, será tratada em texto posterior. No Brasil, essa direita sofre com as mesmas limitações da atual esquerda tupiniquim, tentando assumir uma pauta libertária e, por vezes, logrando ser somente reacionária e autoritária, deixando sem representação uma parcela importante da população.
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Fontes:
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